Nós
participamos (metexis) da sabedoria de Deus por imitação (mimesis).
O que é um sábio? Mário diz que sábio é aquele que participa da sabedoria divina.
Se há uma sabedoria divina é porque há
uma sabedoria que não é divina, uma sabedoria natural.
A sabedoria divina é aquela que nós
alcançamos por meio da revelação dos textos sagrados das diversas religiões.
A sabedoria natural é aquela que o homem
alcança por meio da luz natural da sua razão.
Nesses dois casos estamos falando daquela
sabedoria que é perscrutável porque há uma sabedoria que é inescrutável. Um
exemplo da sabedoria inescrutável é como é que Deus, o ser supremo, por meio da
sua palavra criou tudo quanto existe. Não importa o quanto eu leia e estude o
evangelho eu nunca vou saber isso. Isso pertence a ciência Dei, a ciência de Deus. Trata-se, portanto, de uma verdade
inescrutável. Eu querer saber isso significa eu querer fazer um outro mundo.
Isso significa eu querer ser Deus.
Mário diz que sábio é aquele que
participa da sabedoria divina. Participar é metexis. Essa era a expressão usada por Platão. Pitágoras usava mimesis que quer dizer imitação. Quer
dizer, nós participamos da sabedoria de Deus por imitação.
Para eu imitar algo de um ente eu tenho
que ter em mim a habilidade de imitá-lo. Ter essa habilidade de imitar
significa ter estrutura de imitação. Ter um esquema, uma intencionalidade. Se
eu não tenho esquema para aquilo eu não posso imitar aquilo. Portanto, a imitação
requer um logos analogante que possa
conexionar aquilo que imita com aquilo de que se imita porque só há imitação
entre semelhantes e não entre diferentes.
Se o sábio é aquele que participa da
sabedoria divina é porque há nele algo de divino, caso contrário essa participação
seria impossível. O que há de divino no homem? O seu espírito que Artur Shaker
no seu livro “budismo e cristianismo” chama de intelecto.
As pessoas pensam que intelectual é quem
fez curso superior ou quem exerce alguma função dentro da universidade como
professor, pesquisador, etc. Porém, o termo intelectual vem de inter mais lec. Inter quer dizer
entre e lec quer dizer escolher. Então,
intelecto é aquilo que no homem o faz escolher entre o substancial e o
acidental. E o intelectual é quem sabe fazer isso. É quem é inteligente.
Portanto, intelectual, é aquele que exerce inteligência. É aquele que sabe
encontrar a verdade.
Portanto, esqueçamos essa asneira de que
inteligente é aquele que tem Q.I 150. Isso é palhaçada. Isso não mede inteligência
de ninguém. Isso mede apenas a sua capacidade operacional e não a sua
inteligência. Só você confundir capacidade operacional com inteligência já
mostra que seu Q.I é 12.5. Inteligência é o talento para encontrar a verdade e
não a capacidade operativa. A capacidade operacional um computador tem mais que
nós. E é por isso que vamos dizer que o computador é inteligente? É claro que
não.
Essa coisa de inteligência artificial é
tudo besteira. A própria expressão inteligência artificial só pode ser levada a
sério apenas como figura de linguagem e não literalmente. A inteligência
pressupõe um intelecto, um espírito e nenhum computador tem espírito. Quer
dizer, agora, que a Microsoft anda a
criar espíritos em laboratórios de informática? Então, esqueçam isso. Isso é só
para impressionar mas não há nenhum conceito científico nisso. Isso é apenas
uma figura de linguagem.
Qual é a diferença entre uma figura de
linguagem e um conceito científico? Uma figura de linguagem expressa uma
impressão que você teve diante de um objecto singular. Enquanto isso, um
conceito científico expressa uma classe de objectos. Ora, quando você substitui
isso por uma impressão, você está transformando a ciência em estética.
Não negamos que a ciência busca alcançar
certos valores. De modo nenhum. Pelo contrário, ela busca alcançar o valor de
verdadeiro e afastar-se do valor de falso que é um anti-valor. Mas nem um nem
outro estão na ciência mas nos juízos enunciados pelos próprios cientistas. Então,
aí temos a verdade lógica. Porém, isso não significa que temos que fazer da
ciência uma colecção de meras opiniões porque também existe a verdade
ontológica que é aquela que está na coisa
Na ciência, assim como na filosofia, a
autoridade não é a pessoa do cientista ou do filósofo mas a prova. De modo que
sem observação e experimentação não há ciência. Não adianta citar o cientista
mais famoso da paróquia, isso não serve. Ciência tal como proposto por Galileu
e Claude Bernard é experimentação. Se Newton disse, se Einstein disse, se
Darwin disse, isso não muda nada, tem que provar por meio da experiência. Caso contrário
é um dogma. Se é dogma, logo é religião e não ciência. Na filosofia é a mesma
coisa. A autoridade é a demonstração.
Infelizmente, nessa fase grave da nossa
história, os homens se agarram mais aos argumentos de autoridade, dando mais
valor a pessoa do cientista e do filósofo do que a aquilo a experimentação e
demonstração. É caso para dizer que a ciência e a filosofia acabaram.
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