sábado, 10 de fevereiro de 2018

Sabedoria (III)

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Nós participamos (metexis) da sabedoria de Deus por imitação (mimesis).

O que é um sábio? Mário diz que sábio é aquele que participa da sabedoria divina.

Se há uma sabedoria divina é porque há uma sabedoria que não é divina, uma sabedoria natural.

A sabedoria divina é aquela que nós alcançamos por meio da revelação dos textos sagrados das diversas religiões.

A sabedoria natural é aquela que o homem alcança por meio da luz natural da sua razão.

Nesses dois casos estamos falando daquela sabedoria que é perscrutável porque há uma sabedoria que é inescrutável. Um exemplo da sabedoria inescrutável é como é que Deus, o ser supremo, por meio da sua palavra criou tudo quanto existe. Não importa o quanto eu leia e estude o evangelho eu nunca vou saber isso. Isso pertence a ciência Dei, a ciência de Deus. Trata-se, portanto, de uma verdade inescrutável. Eu querer saber isso significa eu querer fazer um outro mundo. Isso significa eu querer ser Deus.

Mário diz que sábio é aquele que participa da sabedoria divina. Participar é metexis. Essa era a expressão usada por Platão. Pitágoras usava mimesis que quer dizer imitação. Quer dizer, nós participamos da sabedoria de Deus por imitação.

Para eu imitar algo de um ente eu tenho que ter em mim a habilidade de imitá-lo. Ter essa habilidade de imitar significa ter estrutura de imitação. Ter um esquema, uma intencionalidade. Se eu não tenho esquema para aquilo eu não posso imitar aquilo. Portanto, a imitação requer um logos analogante que possa conexionar aquilo que imita com aquilo de que se imita porque só há imitação entre semelhantes e não entre diferentes.

Se o sábio é aquele que participa da sabedoria divina é porque há nele algo de divino, caso contrário essa participação seria impossível. O que há de divino no homem? O seu espírito que Artur Shaker no seu livro “budismo e cristianismo” chama de intelecto.

As pessoas pensam que intelectual é quem fez curso superior ou quem exerce alguma função dentro da universidade como professor, pesquisador, etc. Porém, o termo intelectual vem de inter mais lec. Inter quer dizer entre e lec quer dizer escolher. Então, intelecto é aquilo que no homem o faz escolher entre o substancial e o acidental. E o intelectual é quem sabe fazer isso. É quem é inteligente. Portanto, intelectual, é aquele que exerce inteligência. É aquele que sabe encontrar a verdade.

Portanto, esqueçamos essa asneira de que inteligente é aquele que tem Q.I 150. Isso é palhaçada. Isso não mede inteligência de ninguém. Isso mede apenas a sua capacidade operacional e não a sua inteligência. Só você confundir capacidade operacional com inteligência já mostra que seu Q.I é 12.5. Inteligência é o talento para encontrar a verdade e não a capacidade operativa. A capacidade operacional um computador tem mais que nós. E é por isso que vamos dizer que o computador é inteligente? É claro que não.

Essa coisa de inteligência artificial é tudo besteira. A própria expressão inteligência artificial só pode ser levada a sério apenas como figura de linguagem e não literalmente. A inteligência pressupõe um intelecto, um espírito e nenhum computador tem espírito. Quer dizer, agora, que a Microsoft anda a criar espíritos em laboratórios de informática? Então, esqueçam isso. Isso é só para impressionar mas não há nenhum conceito científico nisso. Isso é apenas uma figura de linguagem.

Qual é a diferença entre uma figura de linguagem e um conceito científico? Uma figura de linguagem expressa uma impressão que você teve diante de um objecto singular. Enquanto isso, um conceito científico expressa uma classe de objectos. Ora, quando você substitui isso por uma impressão, você está transformando a ciência em estética.

Não negamos que a ciência busca alcançar certos valores. De modo nenhum. Pelo contrário, ela busca alcançar o valor de verdadeiro e afastar-se do valor de falso que é um anti-valor. Mas nem um nem outro estão na ciência mas nos juízos enunciados pelos próprios cientistas. Então, aí temos a verdade lógica. Porém, isso não significa que temos que fazer da ciência uma colecção de meras opiniões porque também existe a verdade ontológica que é aquela que está na coisa

Na ciência, assim como na filosofia, a autoridade não é a pessoa do cientista ou do filósofo mas a prova. De modo que sem observação e experimentação não há ciência. Não adianta citar o cientista mais famoso da paróquia, isso não serve. Ciência tal como proposto por Galileu e Claude Bernard é experimentação. Se Newton disse, se Einstein disse, se Darwin disse, isso não muda nada, tem que provar por meio da experiência. Caso contrário é um dogma. Se é dogma, logo é religião e não ciência. Na filosofia é a mesma coisa. A autoridade é a demonstração.

Infelizmente, nessa fase grave da nossa história, os homens se agarram mais aos argumentos de autoridade, dando mais valor a pessoa do cientista e do filósofo do que a aquilo a experimentação e demonstração. É caso para dizer que a ciência e a filosofia acabaram.

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