sábado, 10 de fevereiro de 2018

Natureza humana

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…a natureza, tomada aqui no sentido d..aquilo que nasce com a coisa, significa que há uma simultaneidade entre a natureza e a coisa e não uma sucessão... Portanto, afirmar que primeiro o homem vem ao mundo e só depois constrói a sua natureza com base na acção histórica é uma hipótese absurda. O homem e a sua natureza humana emergem juntos.

O termo natureza vem do latim natura, então, temos nascor, que é nascer. Portanto, natureza é aquilo que nasce com...Deste modo, quando falamos de natureza humana queremos nos referir a aquilo que nasce com o ser humano ou então, aquilo que o homem é considerando-o desde a sua essência.

Há uma expressão de Ortega y Gasset sobre a natureza humana que passamos a citar: “o homem não tem natureza, tem história”. Então, Ortega nega a natureza humana para afirmar a história. Essa tendência, de tender, de reduzir todo acontecer humano a história é o que se chama historicismo. Não apenas o acontecer humano tomado antropologicamente, culturalmente, etc., mas também todo acontecer de origem físico-química, biológica, matemática, etc.

Na verdade, quando Ortega y Gasset diz que o homem não tem natureza, ele não está dizendo exactamente que o homem não tem natureza. Ele está apenas dizendo que a natureza humana é produto da história. Ele está dizendo que a natureza humana é a posteriori e não a priori.

Na verdade, o que Ortega y Gasset está fazendo é apenasmente confundindo natureza com factos. Conforme já vimos em outros artigos facto é aquilo que começou a ser, ou seja, que teve um começo no seu ser. Ora, tudo que tem um começo no seu ser é, segundo a última divisão do ser, um ser nec ab aeterno nec a semetipsu, ou seja, um ser que não é eterno e que procede de outro.

Enquanto isso, a natureza, não tomada aqui no sentido de natureza física de átomo e energia mas no sentido de natura, de nascor, de aquilo que nasce com a coisa, tem um sentido totalmente diferente. Ao nascer com a coisa isso significa que há uma simultaneidade entre a natureza e a coisa e não uma sucessão como se dá com os factos. Portanto, afirmar que primeiro o homem vem ao mundo e só depois constrói a sua natureza com base na acção histórica é uma hipótese absurda.

O homem já nasce com a natureza humana, o que significa afirmar que o homem já nasce homem. Se essa natureza se actualiza mais em alguns homens do que em outros isso em nada corrobora contra a nossa tese. A natureza humana é inata e estabelece um diferencial entre o homem e os animais. Essa diferença específica que cria uma ruptura eidética do homem com o animal é, pois, a racionalidade.

O homem é homem não porque ele evoluiu de espécies inferiores mas porque ele tem racionalidade. Essa racionalidade é a lei da proporcionalidade formal intrínseca que faz do homem o que ele é. Os animais não têm esse logos. Eles têm um outro logos. A lei da proporcionalidade intrínseca que rege os animais é outra e que faz deles o que eles são.

 Infelizmente, muitos têm caído em ismos, como o historicismo, e não são apenas indivíduos de nenhuma notoriedade que o fazem mas também indivíduos de grande notoriedade como o próprio Ortega y Gasset, Spengler e tutti quanti.

 Splengler chegou mesmo a dizer que “a realidade é história”. Ora, o termo realidade vem de res, que quer dizer coisa, o que se refere ao mundo dos sentidos. Então, o que chamamos de realidade é o mundo sensível, o qual está colocado ou fundado sobre o eu e o eu por seu turno está fundado sobre o ser como diria Lavelle. Então, a realidade é esse conjunto de possibilidades finitas, as quais captamos por meio dos nossos sentidos.

Sabemos que para Aristóteles, o conhecimento começa pelos sentidos. É dele a frase: “nada está no intelecto que não tenha estado primeiro nos sentidos”. Por meio dos sentidos nós temos a experiência daquilo que é sensível. A experiência do que é sensível nos leva as ciências naturais como a física, a química, etc. Ora, dizer que a realidade é história é tentar explicar a força da gravidade pela conexão do sentido dos factos que se deram quando Newton teve a intuição dessa teoria e afirmar que os nexos causais que explicam a força da gravidade são produto da história.

Ninguém nega a importância da história. Quer dizer, ninguém nega mais ou menos porque assim como o historicismo nega a perspectiva das outras disciplinas do saber culto, essas outras quando levadas ao extremo acabam também negando a perspectiva da história. Porém, importa esclarecer que uma coisa é o facto da descoberta de uma teoria científica e outra completamente diferente é a própria teoria científica. A descoberta da lei da gravitação universal por Newton é uma coisa. Ela é história. Ela é um facto histórico porque é irrepetível, ou seja, não vai aparecer mais alguém a descobrir essa lei. Ela já foi descoberta. Porém, a própria lei da gravitação universal não tem nada que ver com a história. Por meio da história podemos ter a compreensão da descoberta dessa lei, ou seja, as conexões de sentido que nos vão dar a compreensão dos factos históricos associados a essa descoberta, porém, a história não pode nos dar os nexos de causa e efeito do movimento dos corpos na mecânica terrestre e celeste.

Outro exemplo: a história pode nos dar a compreensão do momento cultural em que Pitágoras descobriu o teorema de Pitágoras. Porém, você saber em que circunstâncias históricas o filósofo de Samos descobriu o teorema de Pitágoras não explica por que a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Para você saber isso, você tem que apreender o nexo causal entre a hipotenusa e os seus catetos, o que está fora do âmbito da história.

Portanto, a realidade não é apenas história. Ela é também biologia, física, química, poesia, política, sociologia, religião, etc. Portanto, o historicismo peca por seu extremismo e abstractismo.

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