Quando se diz que a sabedoria é o
estudo das coisas divinas, isso nos conduz a teologia (Metafísica especial).
S.Paulo, Apóstolo, diz que os gregos buscavam a sabedoria e depois ele diz que
essa sabedoria é Cristo. Portanto, a sabedoria não é um conjunto de proposições
mas sim uma pessoa e essa pessoa é Cristo, a sabedoria encarnada.
Mário Ferreira dos Santos diz que “a sabedoria é a
ciência das coisas divinas”.
Sabemos que a filosofia é o amor a sabedoria. Essa é
a definição nominal de filosofia dada por Pitágoras. Embora muitos saibam que a
filosofia é o amor a sabedoria, a busca da sabedoria, poucos sabem o que é a
sabedoria.
Devemos ter cuidado de não confundir sabedoria com
conhecimento. Embora, aparentemente esses dois termos tenham ou participem de
alguma similaridade, de alguma semelhança entre si, eles não são sinónimos.
O conhecimento pertence a gnoseologia que é aquela
disciplina filosófica que se debruça no estudo do conhecimento. Gnoseologia vem
de gnosis que quer dizer
conhecimento e logos que quer dizer
tratado, ciência, teoria, estudo, etc. de onde podemos dizer que a gnoseologia
é a teoria do conhecimento.
O termo
teoria, para os gregos, tem um significado que infelizmente não tem sido nada
compreendido mesmo pela inteligentsya
universitária. É daqui que surge a confusão entre letra e teoria. Presenciei
essa confusão em grande profusão na universidade. Os estudantes de medicina,
física, engenharia, em geral, acusavam os estudantes das letras, a saber,
direito, sociologia, economia, antropologia de estarem a fazer teoria e que
eles estavam a fazer ciência. Quanta burrice, meu Deus do céu!
O que eles não sabiam e não sabem é que não há
nenhuma oposição entre teoria e ciência. A teoria não se ob põe, se põe perante a prática e não a ciência porque a ciência é
teoria. Quando a ciência deixa de ser teoria e se torna pratica ela sofre uma
metanóia e se torna em técnica. Ora, o que é ciência? Ciência é o saber culto.
O que é o saber culto? É o saber especulativo. O que é o saber especulativo? É
o saber teórico.
O que é teoria? Teoria não é letra como muitos
imaginam e não sei donde é que foram tirar uma coisa dessas dessas. Para os
gregos antigos, teoria era a fila dos devotos diante do templo dos deuses.
Esses devotos eram unidos por um filão de ramos de flores. Isso é que era
teoria. Essa é a origem da palavra teoria. Portanto, teoria não quer dizer
letra mas sim aquilo que liga, que une, que conexiona, que oferece uma
explicação, que oferece uma compreensão, que oferece um nexo causal, que
oferece uma conexão de sentido.
Por exemplo, a gravitação universal é uma teoria.
Porquê? Porque ela conexiona, ela liga, ela une fenómenos, ou seja, ela explica
um conjunto de fenómenos aparentemente desconexos. Quando você atira uma pedra
para o alto ela cai. O que liga uma coisa com a outra? É a gravidade. Então, a
gravidade é uma teoria.
Portanto, quando os estudantes de medicina,
engenharia, etc., dizem que não estão a fazer teoria mas sim ciência eles só
mostram a sua pobreza cultural. Ora, cultura não é só a capulana, a matapa e a
marrabenta. Isso é cultura popular. Quando me refiro a cultura me refiro a
cultura superior que Roger Scruton definiu como literatura e erudição
filosófica. E filosofia não é aqui no sentido escolar em que é aplicado o termo
mas sim filosofia como toda e qualquer busca da unidade do saber na unidade da
consciência e vice-versa como diria
O.d.Carvalho.
Há uma física teórica e há uma física prática. A física
teórica não é menos científica que a física prática. Einstein foi um físico
teórico. Porém, não vamos dizer que Einstein foi menos cientista que Tesla só
porque Tesla era um físico prático. Tudo isso só revela uma incompreensão dos
termos e a ânsia de querer dar palpite em coisas que se não parou um minuto sequer
para pensar. Esse é o grande defeito da classe falante desde o século XVIII
quando emerge o intelectual como o tipo formador da opinião pública.
O indivíduo, porque entrou numa universidade já
imagina dentro do seu cérebro provinciano que lhe assiste o direito divino de
ter opinião sobre tudo sem precisar estudar nada a respeito. Eu já vi pessoas
falarem tão mal de Aristóteles e depois quando você vai ver o indíviduo nunca
leu uma linha sequer de Aristóteles. Então, com que direito ele enche a boca
para falar do que não sabe? Com o mesmo direito que ele tem de ser burro porque
hoje em dia tudo é uma questão de direito.
Aliás, não houve aquele pseudo filósofo francês, o
Claude Le fort que disse que “a democracia é uma criação de direitos”? Ora,
direitos sem deveres só um bebé e um louco é que têm. Então, essas pregações de
direito têm justamente a finalidade de infantilizar todo mundo e aqueles que
conseguirem resistir a infantilização acabarão por enlouquecer. E mais uma vez,
razão tem o poeta espanhol António Machado quando escreveu:
Quan difícil est
Quando todo baja
No bajar tambien
Todas as ciências têm um aspecto teórico e um
aspecto prático. O aspecto teórico das ciências culturais não é o mesmo que o
aspecto teórico das ciências naturais ou físico-químicas. Enquanto as primeiras
se afanam a identificar as conexões ou implicações de sentido as segundas
buscam alcançar os nexos de causa-efeito.
Tendo dado essa notícia voltemos pois a nossa
questão inicial que é a sabedoria. Esse objecto de estudo da filosofia. Vimos
que M.F.Santos define a sabedoria como a ciência das coisas divinas. Já vimos o
que é ciência. Agora, resta-nos interrogar acerca das coisas divinas, das res divinitas.
Em primeiro lugar vamos tomar Spinoza e dizer que
coisa é a totalidade do real. Do real temos a realidade que Olavo define como o
conjunto de possibilidades finitas. Esse conjunto de possibilidades finitas não
sustenta a si próprio mas é sustentado por um conjunto de possibilidades que a
abarcam e subordinam transcendendo-a infinitamente.
O que chamamos de realidade é o mundo das coisas
sensíveis. O mundo da natureza. Daquilo que nasce. Porém, a natureza está
contida dentro de um outro mundo que é o cosmos. Cosmos quer dizer ordem. E
ordem é a relação das partes com o todo. Essa ordem e beleza que existem no
universo estão, por sua vez, contidos dentro do divino. É por isso que o
estagirita diz que o ser supremo, o Deus das religiões, é o fundamento derradeiro
da realidade. Quando você disseca a realidade, as várias camadas da realidade,
você vai chegar ao indissecável que é Deus. É por isso que grandes mentes, não
apenas da ciência como Einstein mas também da ciência e da filosofia como
Leibniz, etc., disseram que o muito conhecimento vai aproximá-lo da religião e
o pouco conhecimento vai afastá-lo dela. Portanto, encontra-se aqui refutado a
pseudo ideia de que a religião é matéria de interesse exclusivo dos ignorantes.
Isso é tão falso como uma moeda falsa porque os maiores cérebros que a
humanidade produziu na área do saber foram todos eles crentes na existência de
um ser supremo, o Deus das religiões. Do outro lado, do lado dos ateus, apenas
proliferaram cérebros menores desde Epicuro até Richard Dawkins.
O termo divino nos remete a Deus. Aparentemente
dizer que a sabedoria é a ciência das coisas divinas poderia significar
transformar a sabedoria numa teologia ou pelo menos numa teodicéia. Na verdade,
esse pensamento não está totalmente errado.
Já diziam os escolásticos que a filosofia era serva
da teologia. Porém, se a filosofia é serva da teologia, não é, contudo, menos
verdade que a teologia é parte da filosofia porque a filosofia é a ciência do
universal.
A filosofia divide-se em vários departamentos. Temos
a Ontologia que estuda o ser enquanto ser. Temos a Gnoseologia. Temos a
Teologia. Temos a Axiologia. Podemos dividir todas essas disciplinas, podemos
classificá-las, em filosofia primeira e filosofia segunda. A filosofia primeira
é a metafísica. Dentro da metafísica temos a metafísica geral que é a ontologia
e temos a metafísica especial que estuda a teologia, teodicéia, etc.
Na filosofia segunda vamos estudar a gnoseologia e a
axiologia. Há, contudo, outras disciplinas filosóficas que não têm sido ainda
objectos de estudo da filosofia para muitos e que fazem parte da enciclopédia
das ciências filosóficas do Mário Ferreira dos Santos como sejam os seguintes:
1- Tratado de simbólica
2- Matesis
3- Noologia
4- Antropogênese
5- Psicogênese
6- Esquematologia
7- Teoria geral das tensões
8- etc.
Quando se diz que a sabedoria é o estudo
das coisas divinas, isso nos conduz a teologia, sem dúvida alguma. S.Paulo, Apóstolo,
diz que os gregos buscavam a sabedoria e depois ele diz que essa sabedoria é
Cristo. Portanto, a sabedoria é uma pessoa e essa pessoa é Cristo. Cristo não
apenas era sábio mas era a própria sabedoria. A sabedoria encarnada.
Muitos podem não concordar com isso. Não
faz mal. Mas a verdadeira filosofia conduz sempre a Cristo. Quando estuda-se o
pouco que se sabe do pitagorismo como, por exemplo, os versos áureos de
Pitágoras vê-se que o pitagorismo era uma ordem iniciática. Você começava com
aquelas purificações todas por meio do culto a família e outros cultos até
atingir ao estado de teleiotes que
quer dizer perfeito, estado de perfeição.
As pessoas simplesmente repetem que a
filosofia é o amor a sabedoria mas não fazem nenhuma ideia do que se entende
por sabedoria ou o que Pitágoras queria dizer com sabedoria, o que os gregos
queriam dizer com sabedoria. Portanto, quando vemos filósofos como Bertrand
Russel, J.P.Sartre dizerem que são ateus, eles, na verdade, não sabem o que
estavam dizendo quando se diziam filósofos porque a verdadeira filosofia lhe
vai conduzir de volta ao ser supremo nunca ao seu inverso.
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