Dizer que
tudo que nos rodeia é natureza é um erro pueril digno de principiante. Para
além daquilo que consideramos o mundo natural há um outro mundo que cerca o
homem mais de perto que é o mundo da cultura. Na Selva, os leões, os búfalos,
etc., vivem cercados apenas dos objectos naturais mas o homem por ter um
espírito que o torna participe da Divindade é um criador e ele cria para si um
mundo interior e um mundo exterior por meio do qual ele estabelece contacto com
o mundo da natureza.
Estou sentado numa cadeira a escrever num
computador. Diante de mim está uma cama. Por cima da cama está um telemóvel, um
chapéu. Estou num quarto repleto de objectos diversos como sapatos, ventoinhas,
ferro-de-engomar, lâmpadas, entre outros.
Todos esses objectos que eu mencionei não
existem na natureza. Não são produtos da natureza. Entendendo-se natureza não
no seu sentido nominal ou etimológico grego mas no seu sentido ou no sentido em
que ela é tomada na física. Aliás, isso é até uma redundância porque física
quer dizer natureza. A palavra física vem de Physis que quer dizer natureza.
É lamentável ver que até professores de física
ou de ensino de física com diploma universitário definem natureza como tudo
aquilo que nos rodeia. Tudo que nos rodeia não pode ser natureza porque a
natureza também está imerso ou seja a natureza é uma realidade que também está
imersa dentro de uma outra realidade que a abarca e a subordina, transcendendo-a
de algum modo.
A natureza está dentro do cosmos e o cosmos
está dentro do divino. As vezes parece difícil estabelecer um termo, um índice
de determinação, ou uma fronteira entre uma realidade e outras mas, essa
distinção se dá e podemos ter notícia dela pelas leis, pelos logoi, que dão a cada uma dessas
realidades a sua proporcionalidade formal intrínseca. Há um logos da natureza. Há um logos do cosmos. Há um logos divino que é o logos supremo, o logos de todos os logoi,
o logos dos logoi.
Os objectos que eu mencionei também estão a
nossa volta não apenas nas grandes cidades mas também nas pequenas vilas já
podemos ver que há um mundo composto de objectos que estão a nossa volta que
não são propriamente objectos que nos são dados pela natureza mas que são
produtos do trabalho humano.
Quer dizer, para além da realidade natural como
a conhecemos há uma outra realidade criada pelo homem. Tudo que o homem cria é
cultura. E o homem cria porque diferentemente dos outros animais tem um
espírito. Isso faz do homem um criador.
O homem não é apenas capaz de criar objectos
como automóveis, aviões, cadeiras, roupa, calçado, casa, etc., mas ele é também
capaz de criar um mundo interior. Então, o homem não somente cria um mundo
exterior mas também um mundo interior. Para isso, como já disse, ele faz o uso
da sua inteligência, do seu entendimento, que nada mais é do que a orexis racional que tende para a
verdade.
Portanto, o que o homem entende, ele entende porque
quer a verdade das coisas. É o conhecimento da verdade das coisas que lhe dá o
domínio sobre as coisas. O poder sobre as coisas, ou seja, a possibilidade de acção
sobre as coisas. Hoje o homem tem domínio sobre o tempo e sobre o espaço mas
isso só se tornou possível porque o homem tomou conhecimento da verdade sobre o
tempo e sobre o espaço. Essa notícia sobre o tempo e o espaço é que abriu para
o homem aquelas possibilidades que, pese embora reais, cum fundamento in res, ainda não tinham se tornado uma necessidade
para ele. Foi somente quando o homem passou a negar o não que ele descobriu a
realidade, i.e., o conjunto das possibilidades finitas.
Uma possibilidade é aquela grandeza lógica que
afirma a coerência lógica interna de todas as suas notas. Quando as notas de um
determinado ente ou de uma determinada coisa não seguem a lei da proporcionalidade
formal intrínseca daquele ente, sucede que aquele ente diz-se ser um ente
impossível. Por exemplo, sabemos que é da proporcionalidade formal intrínseca
do triângulo ter três lados. Deste modo, se surgir um outro ente geométrico com
4 lados não podemos dizer que se trata de um triângulo porque seria absurdo.
Seria absurdo porque ter quatro lados não é uma das notas do triângulo mas sim
do quadrado.
Portanto, um triângulo é triângulo porque tem a
forma do triângulo que é a triangularidade, a triangularitas. Um homem é homem porque tem a forma de homem que é
a humanitas, a humanidade.
Quando os evolucionistas dizem que o homem
procede de um parente próximo de macaco eles não sabem o que estão dizendo.
Eles chegam a essas conclusões de ânimo bastante leve, levados apenas pelas
semelhanças exteriores de que participam o homem e certos animais. Porém, o
facto do sol ter a forma redonda e a lua também ter a forma redonda isso não
significa que o sol é uma lua evoluída. Mas é isso que fazem os adeptos, os
paladinos do evolucionismo.
Que o homem na sua aparência exterior se
assemelhe a alguns animais isso ninguém pode negar mas daí concluir que há
entre o homem e esses animais um elo mais do que está contido nessa simples
aparência é um erro de tremenda gravidade.
Sabemos que o ser vivo é o género remoto do
homem e que animal é seu género próximo. Isso ninguém nega. Porém, isso não
significa que o homem é um animal tomado genericamente. De modo nenhum. Por
que? Porque o homem diferencia-se do género animal especificamente. E essa
diferença específica é a razão. Ou seja, o homem é um animal racional.
Quando se diz que o homem é um animal isso não
significa que o homem descendeu deste ou daquele animal especificamente como
querem nos fazer crer os evolucionistas porque a evolução é uma crença e,
portanto, uma religião. O homem genericamente é tomado como um animal no
sentido de que ele tem sensações. Aliás, animal quer dizer aquilo que tem sensações,
que é capaz de sentir. Uma planta não sente. Um mineral, um vegetal, não
sentem. Mas um leão, uma vaca, um gato, já podem sentir. Eles têm sensações. E
isso o homem também tem porque ele é um animal tomado genericamente mas não
especificamente porque especificamente o homem define-se ou determina-se o seu
lugar ontológico por ser racional.
Quando tomamos o homem genericamente como
animal temos uma menor compreensão do conceito homem porque esse conceito
encerra uma grande extensão. De modo que se quisermos ter uma maior compreensão
do conceito homem temos que especificá-lo e depois singularizarmo-lo.
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