quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Paz

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A alma humana precisa de paz. Ela anseia pela paz. Ela tem buscado essa paz nas drogas, no álcool, no cigarro, nas riquezas materiais que a nossa era técnico-científica oferece mas tudo que tem conseguido é aumentar a sua angústia, o seu desespero, a sua ansiedade, a sua perplexidade. Os bens materiais não podem proporcionar paz a alma humana. Os bens materiais somente podem proporcionar o bem-estar mas não a paz. A única coisa que pode aquietar a nossa alma é o saber.


Um dos grandes problemas do nosso tempo é, sem dúvida alguma, a falta de paz. Não há paz no mundo. Não há paz nos continentes. Não há paz nos países. Não há paz nas cidades. Não há paz nas famílias. Não há paz na alma do ser humano.

Muitos esforços têm sido feitos em conferências, negociações, etc., para estabelecer a paz em muitas nações em conflito. Se esse esforço nem sempre é sincero temos , contudo, que reconhecer que algum desse esforço é sincero.

Num mundo em que há uma proliferação desenfreada de armas nucleares, terrorismo islâmico, etc., o tema da paz se torna cada vez mais importante.

Erradamente, os homens entendem a paz como um sinónimo do calar das armas. Esse conceito é errado. O calar das armas, o fim da guerra é uma outra coisa. Clausewitz, um general prussiano, entendia a guerra como uma continuação da política por outros meios. Ora, sendo assim, se abolida a política acabou-se a guerra porque não pode haver continuação de algo que não existe.

Uma continuação pode ser um efeito. Quando meditamos acerca das causas vimos que, de algum modo, o efeito é uma continuação da causa que o desencadeou. Assim, podemos dizer que, nesse sentido, a política é a causa da guerra e a guerra o efeito da política.

Olhando desse ângulo parece que o drama da guerra é de fácil resolução. Podemos pensar que para lidar definitivamente com o drama da guerra a única coisa a fazer é abolir a política. Porém, a coisa não se avizinha um empreendimento fácil. Por que? Por causa de algo que foi dito por Aristóteles na “Política” de que o homem é um animal político. Então, abolir a política seria abolir o próprio homem.

Quando se diz que o homem é um animal político, ou seja, todo homem é um animal político, ou então, cada homem tomado singularmente é um animal político o impacto seria exactamente esse. Política vem de polis que quer dizer cidade. Esse étimo grego do termo política é interessante porque em latim cidade é civita de onde vem a palavra civilização. Então, assim como a civilização acontece nas cidades como escreve Spengler, a política também se dá nas cidades porque a política é a arte de organizar a cidade, a civitas, a civilização, a qual é, por seu turno, produto da Cultura.

É certo que dizer que o homem é um animal político não é o mesmo que dizer que o homem é um animal racional. A racionalidade é da natureza humana. Ou seja a racionalidade nasce com o homem enquanto a política é uma criação do homem. Ou seja, predica-se analiticamente a racionalidade do homem porque esta convém essencialmente ao homem mas a política só pode ser-lhe predicado sinteticamente. O homem ser político é um acidente mas ser ele racional é uma necessidade mas a política é para o homem um acidente culturalmente necessário, de modo que o homem não pode viver na sociedade civilizada sem política, sem uma organização, sem algo que unifique todas as partes soltas da sociedade e de uma visão de conjunto. Então, abolir a política seria abolir o homem não enquanto homem mas o homem enquanto organizador da polis.

O fim da guerra, enquanto o homem tiver necessidade de organizar, de dar alguma unidade, não irá cessar. O fim da guerra, mesmo quando isso é possível, não pode significar a tão almejada paz que a alma humana tanto anseia.

A alma humana precisa de paz. Ela anseia pela paz. Ela tem buscado essa paz nas drogas, no álcool, no cigarro, nas riquezas materiais que a nossa era técnico-científica oferece mas tudo que tem conseguido é aumentar a sua angústia, o seu desespero, a sua ansiedade, a sua perplexidade. Isso tudo ocorre porque, como bem demonstrou Mário Ferreira dos Santos, os bens materiais não podem proporcionar paz a alma humana. Os bens materiais somente podem proporcionar o bem-estar mas não a paz.

A paz é a quietude da alma, é a serenidade da alma. A única  coisa que pode aquietar a nossa alma é o saber. E essa quietude da alma é o que chamamos de certeza. O Rev. Bonnke escreveu em um seu opúsculo “Now that you are saved” que a certeza é uma paz imensa que enche a alma humana naqueles momentos em que o diabo sussurra dúvidas.

Para termos essa paz na alma, essa paz interior, temos que buscar o saber, sabedoria, que é, como dizia Tomás de Aquino, “a ciência das coisas divinas”. Mas para alcançarmos esse saber supremo, essa mathesis megiste como a denominavam os pitagóricos, temos que ter uma atitude de contemplação da sabedoria (1).

Notas:

Contemplação, para os gregos, tem o sentido de teoria, de especulação, de discurso. Então, a especulação é procurar aquilo que une, o que conexiona, o que nos dá a unidade e aí chegaremos a unidade suprema que é o Deus das religiões superiores.

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