segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

É lógico

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Nem tudo que as pessoas dizem ser lógico de facto o é. Ter um pensamento correcto é algo tão raro que a maior parte das pessoas só têm opinião embora jurem certeza e não sabem que estão apenas no campo do verosímil. Porém, ter opinião nem sempre é mau. A opinião pode ser tomada como sinal de que a pessoa venceu o estado de dúvida se bem que há quem veja a dúvida como essencial para a descoberta do fundamento para o conhecimento.


Quem nunca encontrou alguém que respondesse as suas afirmações com a famosa expressão “é lógico”, porém, quando você vai ver, nenhuma delas tem a mínima noção do que seja lógica. Esse vício de usar termos cujo significado desconhecemos é um desserviço a razão porque a edificação dela só se dá pela percepção, entendimento e compreensão das coisas que vemos, das palavras que ouvimos e daquilo sobre o qual meditamos em nossos corações de modo que se eu fico repetindo palavras que não entendo disso não resultará nenhum proveito para mim.

Quando eu digo: “o gato come o rato” e alguém diz: isso é lógico, o que é que essa pessoa está querendo dizer com isso? Qualquer estudioso de lógica sabe que ela é uma disciplina do pensamento mas não qualquer pensamento mas sim do pensamento correcto. Isso significa que quando alguém diz que a sentença “o gato come o rato” é lógico, ela está dizendo que o pensamento encerrado nessa frase é correcto.

Ora, como é que você, assim de cara, diz que um pensamento é correcto? Para sabermos se um pensamento é correcto há duas vias, uma directa e outra indirecta. A via directa é a via da intuição. A via indirecta é a via do raciocínio. A via que o homem mais usa é a via da intuição e só depois a do raciocínio. Quer dizer, o homem intui primeiro e só depois é que raciocina.

Outro dado é que quando você diz “isso é lógico” você está expressando um certo grau de conhecimento de um certo objecto. Na verdade, nós conhecemos os objectos com gradações diferentes. E para o entendimento disso é de grande ajuda a teoria dos quatro discursos exposta por Olavo de Carvalho em “Aristóteles em Nova Perspectiva”. Naquela obra Olavo diz que os quatro discursos que percorrem toda obra de Aristóteles são: 1) a poética, 2) a retórica, 3) a dialéctica (tópico) e 4) a lógica (analítica).

Na poética ou no mito-poético entramos no campo do possível que é também o campo da simbólica. Na retórica entramos no campo da verosimilhança, daquilo que parece e que parece porque é o que o seu grupo de interesse diz. Você acredita juntamente com seu grupo. Na dialéctica entramos no campo do provável. Na lógica entramos no campo daquilo que é certo, o campo da certeza.

Dizer de tal e qual frase, “isto é lógico”, é enunciar uma certeza. Uma certeza lógica porque há também uma certeza ontológica. A certeza lógica é aquela adesão firme do intelecto a coisa conhecida sem temor de erro. Isso é assim porque a lógica sempre parte da mente para as coisas. Se a sua lógica partir das coisas para a mente isso já não é lógica mas ontologia de modo que a certeza ontológica é a adesão da coisa conhecida a nossa estrutura eidético-noética.

Assim, quando você diz “isto é lógico”, isso significa que a sua mente está aderindo a coisa. Mas isso não significa que você tem certeza lógica. Para você chegar a isso importa que você faça essa adesão sem temor de erro. Agora, a certeza não se dá porque sim. Para que haja certeza é preciso que haja evidência. E só é evidente aquilo que é passível de demonstração, de prova. A evidência a que se refere não é a evidência solta no ar mas a evidência da verdade. Portanto, há aqui um triângulo VERDADE, EVIDÊNCIA, CERTEZA.

A semelhança da certeza que pode ser lógica e ontológica, a verdade também pode ser lógica e ontológica. A verdade é sempre uma adequação entre dois termos dos quais um desses termos é o intelecto e o outro a coisa conhecida. Quando há adequação do intelecto com a coisa tem a verdade lógica. Quando temos a adequação da coisa com o intelecto temos a verdade ontológica. Ou seja, a verdade ontológica é a verdade da coisa tomada em si mesma como quando dizemos: este objecto é verdadeiramente ouro.

De tudo isso, podemos ver que aparentemente a certeza é algo muito simples o que é uma hipérbole mas quando você vai tentar elaborar a coisa mais intelectualmente ai você vê a complexidade da coisa. Quando você se dá conta disso, você descobre que, na maior parte das vezes, as pessoas não têm certeza a respeito do que dizem ou escrevem não passando a maior parte das coisas que eles dizem de meras opiniões. Uma opinião é aquilo que está entre a dúvida e a certeza. De modo que quando as pessoas dizem “isto é lógico” é mais lógico tomar isso apenas como uma opinião (doxa) do que como uma certeza o que não é um bom sinal para o nosso tempo mas um sinal de perda de capacidade lógica.

Post scriptum:

A proliferação de opinião hoje em dia não apenas deteriora o valor dessas opiniões mas também mostra que o homem moderno é incapaz de certeza. Porém, nem tudo é mau com a opinião porque ter a capacidade de ter opinião já é também um sinal de superação da dúvida se bem que há vozes que veneram a dúvida como o caminho não apenas da descoberta do EU como em Descartes mas também da descoberta de algo menos subjectivo e mais objectivo como as nossas circunstâncias e é isso que faz as ciências.

Uma vez que as ciências estão preocupadas em responder as questões sobre o “como” isso mostra que elas estudam apenas as nossas circunstâncias. A ciência não pode resolver o problema do EU que é o centro do psiquismo humano. Ele pode é apenas resolver as questões ligadas as circunstâncias desse mesmo EU. Porém, essa é uma questão que vamos desenvolver em outros artigos futuros.

A ser continuado…

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