Segundo a nossa tese o determinismo é um conjunto de
possibilidades finitas e o livre arbítrio é a actualização de algumas dessas
possibilidades. Não há nenhuma contradição lógica entre determinismo e livre
arbítrio. Eles são as duas notas que compõem o intelecto ou seu acto de
inteligir que nada mais é que exercer a liberdade dentro de um quadro
predeterminado.
O termo intelecto provém de inter lec. Inter quer dizer entre e lec quer dizer escolher. Daqui
dizermos que inteligir significa escolher entre. Assim, o intelecto é aquela
faculdade no homem que o faz escolher entre.
O termo entre nos remete para um limite e escolher
nos remete para a possibilidade ou livre-arbítrio. Voltamos aqui para aquele
velho debate sobre determinismo e livre arbítrio. Contudo, essa aparente contradição
entre um e outro é facilmente resolvido pelo intelecto.
Há contradição quando se nega aquilo que se afirma
sob o mesmo aspecto o que não se verifica entre o determinismo e livre-arbítrio
pois o determinismo não é uma negação do livre-arbítrio nem este a negação
daquele. Ver contradição entre um e outro é tomar o determinismo abstraído do
livre-arbítrio e vice-versa. Digo abstraído porque essa separação entre o
determinismo e livre-arbítrio só se dá na mente de quem abstrai mas não na
realidade porque na realidade o determinismo e o livre-arbítrio formam uma
tensão coerencial que nos dá a unidade daquilo que chamamos de intelecto e que
outros chamam de espírito.
Vimos que inteligir é escolher entre. Ou seja, nós
exercemos nosso livre-arbítrio dentro de um quadro predeterminado. Quando os
eleitores vão votar não é correcto dizer que esse acto não é livre porque eles
vão escolher entre os candidatos que estão no boletim de voto até porque se os
candidatos não tivessem sido predeterminados nenhuma escolha seria possível.
Sempre escolhemos dentro de um intervalo de
possibilidades limitadas. Isso ocorre porque a nossa liberdade também é
limitada. Porém, uma liberdade limitada não significa uma negação da liberdade
como alguns querem nos fazer crer.
Se não há uma variedade limitada de automóveis para
você escolher, nenhuma escolha seria possível. A escolha pressupõe o peso, a avaliação,
a ponderação, das possibilidades que estão disponíveis. Se tivéssemos, como o
ser supremo, uma variedade de automóveis em número infinito ou indefinido como
diz Guenón não poderíamos escolher ou pelo menos não poderíamos escolher
racionalmente porque não há escolha racional sem a possibilidade concreta de
proporcionar a predisponência a emergência.
Sendo o homem um animal que se diferencia
especificamente do seu género próximo pela posse da razão suas escolhas só são
propriamente humanas quando racionais caso contrário ele cai inevitavelmente
numa escolha irracional que seria uma escolha cega, uma escolha orientada
apenas pelas sensações.
O que queremos defender neste pequeno ensaio é que o
intelecto ou a inteligência que é o seu acto é uma fusionabilidade do
determinismo com o livre-arbítrio. E determinismo nada mais é que um conjunto
de possibilidades finitas. E o livre-arbítrio é apenas a actualização de
algumas dessas possibilidades.
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