O termo
“agentes” indica que a economia é, como dizia L.V.Mises, uma ciência da acção
humana. Assim, a economia não é apenas uma ciência pragmática mas ética porque
pragmática. As ligações, sendo processos e pressões que conduzem a novos
processos e pressões (Castel-branco), nos remetem ao carácter cronotópico da
acção humana e a natureza da economia tomada desde seu princípio universal da
maximização e minimização.
Diz-se que em economia temos agentes e ligações.
O termo agentes nos remete para aquele que age, para aquele que realiza
determinado acto. Portanto, temos, aqui, a economia como a ciência da acção
humana como diz L.V.Mises no seu “ACÇÃO HUMANA-UM TRATADO DE ECONOMIA”. Tomado
no contexto da economia, esse acto seria um acto económico. Sabemos das nossas meditações
em outros ensaios que o acto económico obedece a uma lei universal que é a lei
da maximização – minimização de modo que o acto propriamente económico é aquele
que vai se cingir na busca do máximo resultado com o mínimo de esforço ou com o
mínimo de recurso.
Quando o ser humano age nesses termos, dizemos
que ele está agindo dentro da racionalidade económica porque dispõe a razão
económica que se busque sempre o máximo resultado com o mínimo de dispêndio.
Essa racionalidade económica é apenas essa lei universal do mini-max ou
Max-mini a que já fizemos referência há pouco.
Poderíamos classificar os agentes económicos
nos seguintes tipos:
1) Consumidor
2) Produtor
3) Governo
4) Resto do mundo
Não vamos entrar em muitos detalhes acerca de
cada um desses agentes mas apenas dar uma notícia. O consumidor é o agente
fundamental da economia de mercado que também é conhecida como uma economia de
consumo. Sem consumidores não há economia. Portanto, a economia começa com o
consumo. Há economia porque há consumidores.
Depois desses agentes, em termos hierárquicos,
temos a seguir o produtor que também é conhecido como investidor. Poderíamos
colocar nesse grupo os comerciantes, os bancos, enfim, o sector dos serviços,
etc., se bem que eles não são produtores como tais porém o que estamos fazendo
aqui é apenas usar o termo produtor no sentido mais elástico possível do termo.
Temos também o governo. Se o governo é um
agente económico propriamente dito ou não é uma questão que tem suscitado aceso
debate desde o século XVIII. Há uma linha que vem com os liberais que defende a
não intervenção do governo na economia. Há uma outra linha que vem com os
socialistas, comunistas, keynesianos, etc., que defende a intervenção do governo
na economia. Essas duas posições vem se digladiando faz séculos. Elas pecam,
porém, pelo seu abstractismo e pelo seu extremismo.
A nossa posição,
porém, é uma posição de aproximação dos cumes das montanhas e não uma posição
de aprofundamento dos vales que separam as diversas posições de modo que a
nossa posição sendo uma posição concreta vai procurar sintetizar numa única
fronte o que de positivo há em cada uma dessas duas posições. Por outras
palavras, não defendemos a não intervenção do estado na economia e também não
somos paladinos da total intervenção deste na economia. Somos apenas, isso sim,
paladinos de uma visão tética, de uma visão que procura congregar o que de
positivo há em cada uma dessas posições.
Assim, defendemos a iniciativa privada.
Defender a iniciativa privada é defender a liberdade dos homens criarem. Temos
que defender isso porque o homem sendo portador de um espírito que é nele
aquela centelha divina por meio da qual se dá a sua metéxis platónica na divindade ou sua mímesis pitagórica da divindade, ele é um criador.
Ele é um criador porque tem a capacidade de
infundir ser na potência imanente do ser. Uma das provas mais sublimes dessa
capacidade que o homem tem de criar é a poesia. Um homem incapaz de ser um
poeta, incapaz de se emocionar, incapaz de se surpreender, etc., não pode ser
um poeta e, por conseguinte, não pode criar.
Ninguém pode negar que Newton foi uma das
maiores mentes lógicas que a humanidade já teve. Nos maravilhamos ante a
grandeza desse homem por tudo que ele significa e representa para a ciência.
Porém, o mesmo Newton não julgava que as suas realizações tivessem a dimensão a
que as pessoas a elas atribuíam. Ele dizia que se sentia apenas como uma
criança na praia se divertindo com as conchas do mar, se emocionando perante
elas, ao descobri-las mais belas que outras. Contudo, isso não significa cair
no romantismo.
Depois temos o resto do mundo que nada mais são
que os consumidores, produtores e governos dos estados com os quais outros estados
estabelecem relações comerciais de modo que temos aí a exportação e a importação,
não apenas de bens e serviços mas também no nível financeiro.
Posto isto, entramos no tema sobre as ligações.
Certa vez, numa aula de economia industrial, o professor Castelo-branco disse
que “ligações são processos e pressões que conduzem a novos processos e
pressões”.
Um processo nos remete para algo que está em
devir. Não há processo sem tempo e sem espaço. O processo dá-se num tempo e num
espaço como os processos históricos, os processos sociais, os processos
económicos, etc. Portanto, eles são processos cronotópicos porque se dão no
tempo e no espaço. Contudo, há processos que não se dão no espaço mas se dão
apenas no tempo como são os processos psicológicos. Deste modo, a razão, os
sentimentos, a imaginação, etc., se dão no tempo, mas não se dão em um espaço.
Portanto, eles não se ubiquam em nenhum lugar. Eles são atópicos.
As pressões nos remetem para uma força que
actua no sentido de cima para baixo porque de baixo para cima seria impulsão.
Não devemos, contudo, confundir a força de pressão com a força de gravidade. A
força de gravidade é universal enquanto a força de pressão é local.
Podemos falar de pressão na história, pressão social,
pressão económica, etc. Em economia, não somente temos pressão mas também temos
depressão. Como num indivíduo que padece de depressão, seu humor se situa num
nível bastante baixo, numa situação de depressão se dá algo similar com a
economia.
Sabemos que o acto económico seja ele um acto
de consumo, um acto de produção, de investimento, etc., não se dão de forma
isolada. Não há aqui nenhuma insularidade nesses actos. Esses actos estão
ligados uns com os outros do contrario teríamos uma ruptura no ser económico o
que seria um verdadeiro absurdo.
Essas ligações são o que Castel-branco chamou
de “processos e pressões que conduzem a novos processos e pressões”. Contudo, a
economia não funciona apenas por meio de pressões. Que há pressões na economia,
não há dúvida. Mas a pressão em si já não é um dado da economia mas da physis, da natureza, que é, em última
instância, um conjunto de leis sobre o movimento dos corpos apenas no seu
aspecto matematizável.
Ou seja,
a pressão, seja na economia ou em outra disciplina é apenas fruto da ordem natural
das coisas, daquilo que nasce com as coisas. Dissemos no ensaio sobre a procura
e a oferta que lei, segundo Montesquieu, é uma relação necessária que resulta
da natureza das coisas. Sendo assim, quando dizemos que a pressão resulta da
natureza das coisas, estamos dizendo que há uma lei da pressão.
Agora, não devemos conceber a natureza apenas
como átomos e energia. Essa é a natureza apenas no sentido da física mas se
tomarmos, por exemplo, a natureza humana, sucede que essa definição de natureza
não procede porque a natureza humana não é átomos e energia.
Assim, há-de haver uma natureza económica,
aquilo que nasce com a economia que é a oréxis
de obter o máximo com o mínimo. Essa é a natureza das coisas económicas. E é
isso que gera pressão na economia.
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