sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

História e sociologia

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A história, no sentido de saber culto, é o registo de factos irrepetíveis. Quando o historiador começa a registar factos que se repetem todos os dias, ele deixa de ser um historiador para ser um sociólogo.


O que é história e o que é sociologia? Há alguma semelhança entre eles? Comecemos examinando essas questões partindo do conceito que encerram os temas história e sociologia.

Á palavra história tem sido dada o significado de factos passados o que não deixa de ser tautológico porque a palavra facto já traz no seu bojo a pressuposição do passado. Como todos sabemos, a palavra facto vem de factum que significa aquilo que começou a ser ou aquilo que aconteceu, que foi, o que, indubitavelmente, nos remete ao passado.

Mutatis mutandis, será que todos os factos “passados”, são históricos? Sem dúvida alguma. Porém, se todos os factos passados são históricos, nem todos os factos passados são históricos no sentido da história tomada como uma disciplina do saber culto. Por exemplo, o assassinato de um guarda da G4S numa ATM e a deportação de Napoleão Bonaparte para a ilha de Santa Helena são factos passados, porém, a deportação de Napoleão tem valor histórico e o outro não o tem no sentido a que me referi acima.

Para um facto ser considerado histórico no sentido da História tomada aqui como disciplina do saber culto não basta que ele se dê porque factos se dão a cada minuto que passa. Para que seja histórico importa que aquele facto seja irrepetível. Então, aqui está o critério, a pedra de toque, para distinguirmos o que é histórico daquilo que não é histórico.

Poder-se-á objectar ao acima exposto dizendo-se que a morte de um segurança da G4S numa ATM é única e, portanto, irrepetível. Ora, isso ninguém pode negar porque aquele segurança tomado enquanto singularidade é irrepetível. Porém, tomado como um tipo ele acontece todos os dias. Porém, a deportação de Napoleão tomado tipologicamente não acontece todos os dias.

Isso não quer dizer que o que é repetível não é importante como matéria de estudo. De modo nenhum. Enquanto a história atém-se ao que é irrepetível, o que é repetível é captado por uma outra disciplina do saber culto a qual é a sociologia.

O assassinato e a deportação em si não são irrepetíveis. Eles são repetíveis quanto as voltas que a terra dá em torno do seu próprio eixo. Agora, quer um, quer outro, são  um produto da acção humana.

Tomemos o exemplo de um homicida. O homem tomado atomisticamente, desconectado de outros homens, não pode ser um assassino, ou seja, mesmo que haja dentro dele a potência do homicídio esta nunca irá se actualizar mas permanecerá virtualizado nele. Somente estando conectado com outros homens pode o homem ser um homicída do seu semelhante. Portanto, o homicídio se dá em sociedade.

O homicídio é repetível na sociedade. Portanto, o homicídio é um facto social assim como o é o aborto, o furto, a religião, enfim, tudo que se repete cronotopicamente sem ser irrepetível no tempo. Porém, o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinandes não é repetível e é a isso que chamamos história.

Conforme dissemos acima, a história estuda os factos passados e a palavra passado pressupõe o cronos, o tempo. Então, sem tempo não há história. Portanto, a história é sucessão. Onde há simultaneidade não temos história mas uma suspensão da mesma porque aí não há factos que se sucedem uns aos outros.

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