sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Hegel e a insensatez dos existencialistas

Resultado de imagem para Hegel

"A essência de uma coisa é aquilo em que ela se torna".
------Hegel

Não podemos nos esquecer de que Hegel é um dialéctico. A dialéctica de Hegel é uma lógica polivalente ou trivalente porque ela se efectua em três etapas: tese, antítese e síntese.(1)

Para Hegel, a tese se transforma em antítese e a antítese se transforma em síntese. Se a essência de alguma coisa é aquilo em que ela se torna, vindo de Hegel essa sentença, somos levados a concluir que uma coisa só pode, dialeticamente, tornar-se no seu contrário.

Partindo dessa conclusão, a essência da vida seria a morte e a essencia da morte seria a vida. A essência do bem seria o mal e a essência do mal seria o bem e assim por diante.

Se a essência de alguma coisa é aquilo em que ela se torna, então, essa coisa antes de se tornar em uma outra coisa, ela não é essencialmente essa coisa mas apenas existencialmente, o que significaria afirmar que a existência precede a essência, o que não é de todo absurdo. Porém, a existência somente precede a essência gnoseologicamente e não ontologicamente.

Que a existência precede a essência é uma tese defendida pelos existencialistas ateus como o Jean Paul Sartre e tutti quanti. Os existencialistas ateus defendem com unhas e dentes a tese de que a existência precede a essência. O erro dos existencialistas é defender a validade ontológica da sua tese e não apenas a validade gnoseológica, o que  não passa de um show de burrice e um ataque alucinado contra a metafísica no sentido de Aristóteles ou, se quiser, a sua filosofia da física. Isso é um ataque a própria racionalidade humana.

Qualquer indivíduo doptado de inteligência sabe que a essência tem, formalmente, prioridade sobre a existência. A existência vem de ex,que quer dizer fora, e sistere, que quer dizer situar-se, de modo que existir é situar-se fora de si, é dar-se fora de suas causas. Se há um situar-se fora de si, um ex sistere, tem que necessariamente haver um in sistere, um situar-se dentro de si. E esse situar-se dentro de si, em si, Zubiri chama de personeidade. É a mônada de Leibnitz, é a essência imutável do ser.

Não queremos com isso afastarmo-nos da realidade para fundarmos o nosso filosofar apenas na mente, o que nos levaria ao ficcionalismo, a entes ficcionais, os quais há apenas na mente de quem os ficcionaliza. O nosso modo de filosofar funda-se na realidade. O termo “realidade” vem de res, que significa coisa, não importando ser ele uma res extensa ou uma res cogitans conforme a classificação de Descartes.

Quando o estagirita diz que o conhecimento começa nos sentidos isso não significa que temos que ficar de cal e pedra nos sentidos, fazer um finca-pé nos sentidos. Começar nos sentidos significa apenas que os sentidos são o princípio do conhecimento, porém, princípio não significa fundamento. Não negamos que o conhecimento começa nos sentidos, se tem seu princípio nos sentidos, porém, negamos que ele se funda nos sentidos.

Mais ainda, quando dizemos que o conhecimento começa nos sentidos, não queremos dizer que os sentidos dão o ser ao conhecimento como se eles fossem a causa eficiente, formal, material ou final do conhecimento. Mas é um princípio no sentido em que o ponto é o princípio da linha, a linha é o princípio da superfície, do plano, e o plano é o princípio do cubo (2). Aliás, este é o único sentido de princípio que existe.

Portanto, princípio não tem, aqui, o sentido  de logos, lex, paradigmata, ratio,  porque, então, os sentidos  seriam um ser ab aeterno sed  non assemetipsum como os entes de razão, o que é um absurdo porque os sentidos são objectos da  nossa experiência e não entes de razão.

S.Tomás diz que raciocinar é partir do conhecimento do conhecido para o conhecimento do desconhecido, sucede que o fundamento de um conhecimento Xt seria um conhecimento anterior Xt-1. Porém, o conhecimento tomado assim é apenas o conhecimento que cabe no âmbito da praxis, é um conhecimento prático, o qual procura chegar ao conhecimento do certo (conveniente) e do errado (inconveniente) que é próprio do núcleo axio-antropológico. Porém, o conhecimento tomado especulativamente não pode ter seu fundamento num conhecimento anterior mas buscando alcançar os juízos de veracidade e falsidade, ele se funda no imutável.

O imutável cabe ao campo da axiomática, das verdades per se notas, que são aquelas que alcançamos na mathesis por meio da contemplatio sapientiae, a contemplação da sabedoria. A contemplação divide-se em especulativa e intuitiva. Especulativamente, a contemplação é discursiva porque ela é feita com recurso ao raciocínio, o qual requer, por definição, a presença de um termo médio. Intuitivamente, a contemplação nos remete a um conhecimento directo, sem termo médio. Porém, há um termo médio, mas não o termo médio tomado formalmente da lógica, mas o termo médio que dá a unidade cósmica, a ordem cósmica, o qual é o logos analogante.

Creio com isso ter demonstrado a absurdidade da máxima de Hegel de que a essência de alguma coisa é aquilo em que ela se torna, demonstrando assim que a concepção existencialista não tem procedência, não apenas por ser uma inversão da metafísica, o que não constituiria problema algum pois a metafísica de Aristóteles é uma inversão da metafísica de Platão. O grande problema dos existencialistas ateus é a negação do ser, a negação da inteligência, a negação da consciência. Porém, ao afirmarem o nada, esses senhores não se dão conta que caem no contraditório, pois se o ser não há, nenhuma afirmação seria possível porque a afirmação é positividade e portanto, toda afirmação afirma a adsência do ser.

Notas:

(1)          A dialéctica de Hegel é diferente da de Pedro Abelardo. Por outras palavras, enquanto a dialéctica de Hegel é uma lógica polivalente, a dialéctica de Abelardo é uma lógica bivalente.

(2)          A transição da linha para o plano faz-se por meio da integral simples e a transição do plano para o cubo faz-se por meio da integral dupla.

Nenhum comentário:

Postar um comentário