Mário diz que a estrutura da realidade é composta de
duas tríades. Uma tríade inferior e uma tríade superior.
A tríade inferior é composta pelas seguintes notas:
a)
Objectos
sensíveis
b) Formas geométricas
c)
Números
matemáticos (arithmoi mathematicoi)
A tríade superior é composta pelas seguintes notas:
a)
Formas
inteligíveis
b) Números tomados como leis eternas
c)
Princípio
supremo (a estrutura real do ser)
Vemos que a realidade é composta por duas tríades.
Uma inferior e outra superior. A tríade que é a lei do três, na sabedoria das
leis eternas, vimos em outros artigos que Mário afirmou que para os pitagóricos
ela representava a relação.
Há uma dupla relação na estrutura da realidade. Uma relação
inferior e uma superior. Outro ponto importante é que por serem duas isso nos
remete para a lei da dualidade, a lei do dois, que é a oposição. Portanto, há
uma dualidade, uma oposição entre as duas tríades que compõe a estrutura da
realidade.
A tríade inferior é composta por três elementos. O
primeiro desses elementos são as coisas sensíveis daquilo que podemos chamar de
matéria se bem que o conceito de matéria seja demasiado confuso e a verdade é
que até hoje ninguém sabe o que é matéria porque você dizer que matéria é
aquilo que tem massa e ocupa um espaço não quer dizer nada. Essa definição não
diz o que é matéria, qual o seu lugar ontológico ou a determinação da sua
substância. Ela apenas descreve algo que não se sabe o que é e essa descrição
está mais para aquilo que se entende por corpo e não o que se supõe entender
por matéria.
O segundo elemento refere-se as figuras geométricas.
O terceiro, os números matemáticos.
De uma forma muito sucinta podemos dizer que esses
três elementos que compõe a estrutura da tríade inferior correspondem aos dois
primeiros graus de abstracção tal como estudada por Aristóteles e pelos escolásticos.
As coisas sensíveis referem-se a abstracção do
primeiro grau em que tomado um ente abstrai-se a sua singularidade, a sua
propriedade e toma-se o ente na sua generalidade, nos seus aspectos gerais,
como por exemplo, a abstracção de corpo que não se refere a este ou aquele
corpo em particular mas a todos os corpos tomados in generalia.
As figuras geométricas e os números matemáticos nos
dão a abstracção de segundo grau. Quando se toma um ente apenas na sua extensão
contínua temos as figuras geométricas e apenas na sua extensão discreta temos
os números.
Portanto, a tríade inferior da realidade é nos dada
pelas abstracções do primeiro e do segundo grau. Nas do primeiro grau temos as
coisas sensíveis. Nas do segundo grau temos as figuras geométricas e os
números. Portanto, sem as coisas sensíveis nenhuma abstracção geométrica seria
possível e sem a abstracção geométrica as abstracções numéricas seriam impensáveis.
Uma serve de esteio para outra.
Na tríade superior temos:
1) Formas inteligíveis
2) Números tomados como leis eternas
3) Princípio supremo (estrutura real do ser)
Como podemos depreender do acima exposto, a
estrutura superior se ob põe a
estrutura inferior. A estrutura inferior começa com as coisas sensíveis, a
estrutura superior começa com as formas inteligíveis. Podiamos dizer, aqui,
forma e matéria.
Depois temos (na estrutura superior) os números
tomados como leis eternas, enquanto na tríade inferior tínhamos as figuras
geométricas. Por fim, temos o princípio supremo ou estrutura da realidade,
enquanto do outro lado tínhamos os números.
Podemos dizer aqui, em resumo que a tríade inferior refere-se
as abstracções do primeiro e segundo grau e que a tríade superior refere-se as abstracções
do terceiro grau que é a metafísica. Porém, isso não estaria completo porque a metafísica
estuda o ser enquanto ser e temos aí a metafísica geral. Porém, quando falamos
de princípio supremo, a metafísica já não pode fazer mais nada quanto a isso
porque o estudo dos princípios não cabe a metafísica mas a mathesis, a mathesis megiste.
É a mathesis que vai estudar o princípio
enquanto princípio.
Mário publicou a mathesis como o coroamento do seu sistema filosófico. Fazem parte
dessa colectânea a sabedoria do ser e do nada, a sabedoria das leis eternas, a
sabedoria dos princípios, a sabedoria da unidade. Ora, não se pode falar dos
números como leis eternas sem se falar da sabedoria das leis eternas. Não se pode
falar do princípio supremo sem se falar na sabedoria dos princípios. Não se
pode falar de formas inteligíveis sem se falar de metafísica.
A sabedoria das leis eternas e dos princípios é mathesis. Então, podemos dizer que a
tríade superior que compõe a estrutura da realidade é a metafísica e a mathesis.
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