terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Os milagres de Jesus

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Ao longo do seu ministério Cristo revelou que ser cristão é levar uma vida de milagres. Contudo, muitos cristãos não tem visto nenhum milagre em sua via ou os tem visto muito poucos. Conforme Cristo revelou, a causa desse desaire é uma fé insuficiente. Porém, Ele não ficou apenas nisso mas apontou a compreensão da sua palavra como o meio de recebermos e aumentarmos a nossa fé.


Por três anos Cristo ministrou diante dos seus discípulos, dos quais Pedro, Tiago e João eram os mais destacados. Eles testemunham Cristo pregar e ensinar com uma sabedoria que superava a do grande rei e sábio Salomão. Eles o testemunharam curar os enfermos, expulsar demónios, ressuscitar os mortos, repreender as tempestades, amaldiçoar a figueira, transformar água em vinho, fazer uma pesca maravilhosa, prover dinheiro da boca do peixe, multiplicar pão e peixe. Eles também o viram discernir o pensamento do coração dos homens.

Porém, a despeito de terem presenciado tudo isso, eles não eram capazes de fazer o mesmo apesar da promessa de Cristo de que aquele que nEle cresse faria as mesmas obras que Ele fez e as faria maiores. Diante de tamanha impotência era natural que eles interrogassem ao mestre acerca disso e que também o mestre os repreendesse vezes sem conta.

Comecemos examinando esse tema expondo os vários momentos, dentro das nossas possibilidades, em que o cenário que expusemos acima trouxe essas questões a discussão.

Uma vez Cristo expulsou um espírito surdo-mudo de um jovem lunático, depois da tentativa fracassada dos discípulos. Eles quiseram saber por que haviam fracassado e Cristo disse que fora por causa da sua pouca fé, que aquela casta de demónios não sai senão com jejum e oração. Depois Ele disse que se eles tivessem fé do tamanho do grão de mostarda e não duvidassem podiam transportar montes e amoreiras com sua voz de comando.

Numa outra situação, Cristo estava andando por cima das águas do mar e Pedro pediu que Ele lhe desse esse poder de também andar por cima das águas do mar como um sinal de que realmente Ele era o seu mestre e não um fantasma ao que o mestre anuiu. Porém, pouco tempo depois eis que Pedro afundava. E aí ele ouviu aquela doce repreensão do mestre: Por que duvidaste? Homem de pequena fé.

Numa outra ocasião ainda, Jesus exortou seus discípulos a prevenirem-se, a acautelarem-se do fermento dos escribas e fariseus e eles desataram a arrazoar entre si sobre o não terem levado pão consigo. Diante disso, era inevitável que o mestre os repreendesse: “quando multipliquei dois pães e cinco peixes para mais de 5mil pessoal, quantas alcofas levantastes?”- Perguntou Ele. Doze – Foi a resposta. “E quando multipliquei o pão para aquelas quatro mil pessoas?”- Tornou a interrogar. “Sete”- Responderam eles. “Então” – disse Jesus – “Por que arrazoais entre vós o não terdes trazido pães? Ainda estais sem entendimento? Não percebeis ainda? Sois incrédulos?”

Numa outra ocasião ainda, Cristo disse: “não se preocupem com o que vocês vão comer. Olhem para as aves do céu que não semeiam, não segam e nem ajuntam em celeiro mas o vosso pai as alimenta. Porventura, Ele não vos alimentará mais a vós, homens de pequena fé?”

Diante disso também podemos acrescentar que Cristo sempre que curava alguém dizia: “a tua fé te salvou”. Disso podemos concluir que se alguém invoca a Deus por cura e não é curado é caso para dizer: a tua falta de fé, a tua incredulidade, te mantém doente. Portanto, se queremos fazer as mesmas obras que Cristo fez e fazermo-la ainda maiores temos que ter fé.

Conforme já analisamos em outros artigos nossos, a fé é uma virtude teologal. Ela é a primeira das virtudes teologais as quais são: fé, esperança e amor. No texto da epístola aos hebreus XI: 1, diz-se que “a fé é a certeza das coisas que se esperam e a convicção dos factos que não se não vem”. Quem diz certeza diz um firme fundamento. E quem diz convicção diz prova. E a prova nos remete a demonstração. E a demonstração é uma matéria da lógica pela qual, dada uma premissa maior intermediada por um termo médio, chegamos a uma conclusão. Um firme fundamento é uma evidência.

Se a fé é uma certeza nem toda certeza é fé. Em outros artigos definimos a certeza como uma adesão firme do intelecto ao juízo enunciado sem temor de erro. Na fé também há uma adesão firme ao juízo da promessa divina sem temor de erro mas não a adesão intelectual mas uma adesão páthica mas não páthica no seu sentido de sofrimento mas no seu sentido de afectividade. Eu posso aderir pathicamente a uma promessa divina firmemente sem temor de erro sem ter a elaboração intelectual suficiente para aderir intelectualmente a aquela promessa. Isso é apenas para dizer que fé é certeza mas que nem toda certeza é fé, ou seja, a certeza em geral é uma adesão intelectual enquanto a fé é uma adesão afectiva e é por isso que a Bíblia diz que “com o coração se crê para a justiça”, usando o coração como símbolo do simpatético. Por enquanto coloquemos a interpretação do coração como símbolo do simpatético entre parênteses e depois vamos voltar a ele porque o coração também é tomado como símbolo da mente, da psique humana.

Então, a primeira constatação que temos é que para alguém fazer as mesmas obras que Cristo fez e maiores ainda, ou seja, para que alguém receba a graça de Cristo, a kharis, de onde vem a palavra carisma, tem que ter fé. É claro que não há regra sem excepção porque um individuo pode já nascer imbuído de uma graça divina sem que para tal ele tenha crido como Sansão que já nasceu cheio de força e predestinado a fazer grandes coisas sem que para tal ele tenha tido fé. Não é desses casos que nós estamos falando, ou seja, da graça com que um indivíduo nasce com ele, um dom natural, mas algo que ele recebe depois de nascer como uma cura, a solução de um problema financeiro, etc.

Cristo deixou bem claro para seus discípulos que eles não estavam podendo fazer as mesmas obras que ele fazia porque tinham pouca fé ou uma pequena fé. É claro que as expressões pouca e pequena dão a ideia de que a fé tem extensão e que, portanto, ela pode ser medida ou pesada. Porém, essa ideia deve ser abandonada porque a fé não é um corpo, caso contrário ela seria objecto das ciências naturais como as ciências físico-químicas e não objecto da teologia e talvez mais propriamente objecto da noologia e da psicologia.

De modo que as expressões pouca fé, muita fé, grande fé, pequena fé não tem essa dimensão de pesos e medidas mas apenas uma dimensão escalar ou seja a fé admite graus: uma pessoa pode ter mais ou menos fé. Quando dizemos que alguém tem pouca fé ou que tem muita fé estamos a fazer uma comparação, i.e., por par a par, a fé daquela pessoa com o ideal de fé que temos e quando fazemos isso estamos fazendo uma tímesis parabólica, ou seja, tímesis vem do grego estimar e parábola é comparação, então, estamos a fazer uma estimação comparativa e é nesse sentido que temos que compreender isso.

De todo modo os discípulos tinham pouca fé ou pequena fé. As assinaturas dessa pequena fé estão em que eles se preocupavam muito com as coisas cá de baixo do que com as coisas lá de cima, ou seja, estavam mais preocupados com a vida da matéria do que com a vida do espírito como comer, beber, vestir-se, etc.

Esse dado é bastante importante para entendermos um pouco mais sobre o que é a fé. Por outras palavras, Cristo está mostrando ao dizer que temos que buscar em primeiro lugar as coisas do alto e que tudo o resto nos será acrescentado que sem termos uma vida interior, uma vida do espírito, não podemos ter um grau de fé que esteja mais próximo do ideal de fé que é a fé do próprio Cristo.

Hoje em dia ninguém quer saber de vida interior, de vida do espírito e não admira que o grau de fé que as pessoas tenham tenha decaído tanto ao ponto de muitas delas não terem mais nem sequer a esperança para prosseguirem a sua jornada rumo ao seu ideal, não admira que as pessoas hoje em dia não tenham mais caridade. Por que é que elas perderam a caridade? Por que é que elas perderam a esperança? Porque a centelha da fé tem-se-lhes bruxuleado dentro dos corações cada vez mais esfriados pela preocupação constante com as questões materiais próprias daquele tipo humano dos escalões mais baixos como o é o tipo sociológico do empresário utilitário e do servidor.

No seu livro “a vida do espírito”, Hannah Arendt deixa claro para que a vida do espírito ou a vida interior é em outras palavras a vida do pensar. Infelizmente, na era em que nos encontramos, em que as máquinas tem substituído cada vez mais o homem no processo de produção, tem se tornado o próprio numa máquina para o gáudio dos cartesianos. Nesse afã de competir com as máquinas, de superar as máquinas, o homem abdicou do privilégio de pensar porque uma máquina, fria como é, não pensa, ela simplesmente executa. Assim tem se tornado o homem actual, apenas um executor, um frio executor. Não admira que a actividade mais louvada, mais exaltada, mais ambicionada nos tempos actuais seja propriamente a actividade executiva, quer seja na política, quer seja no mundo dos negócios.

Quando o homem abdica do privilégio de pensar, ele se torna apenasmente num imbecil, num idiota útil e muitas vezes num idiota inútil. Esse é o drama humano que encontramos em “Eischamam em Jerusalém” (H.Arendt). Eischman é, na verdade, a caricatura do homem do nosso tempo, o homem sem qualidades de que falou Robert Musil.

Nunca se falou tanto de lógica e nunca tão ilógico foi o homem. O pensamento pertence a lógica assim como o pensar pertence a psicologia. Pensar é acto. Pensar como dizia Hannah Arendt é desde Platão até Aristóteles travar um diálogo silencioso consigo mesmo. Nos meios místicos isso equivale a meditar. Mas a meditação é para penetrar no oculto e oculto é aquilo que é transcendente ao homem, aquilo que o abarca e o subordina, transcendendo-o. Mas o pensar é imanente.

Mas por não travarem esse diálogo consigo mesmo, tornou-se o homem incapaz de querer. Ele não tem mais apetite superior. O seu apetite é um apetite grupal. É o apetite do seu fuhrer, do duce, etc. E não tendo uma vontade própria, ele é incapaz de julgar. Ele é incapaz de fazer juízos de valor, de escolher o que é bom e de rejeitar o que é mau. Para ele, o bem e o mal se tornaram relativos e não mais valores ontologicamente fundados. Chegado a esse ponto, as palavras bem e mal, bom e mau, nada mais são que meras palavras. Assim, vive o homem actual naquilo que Musil e Voeglin chamavam de segunda realidade que é uma realidade feita apenas de palavras, em que as palavras não mais se referem a coisas existentes no mundo real mas a construções mentais, entes ficcionais produzidos por um espírito humano decadente, um espírito em total e completo delírio.

Temos que ter uma vida interior, temos que ter uma vida de espírito, temos que ter uma vida do pensar e não vivermos apenas das impressões que captamos por meio dos nossos sentidos como se fossemos animais irracionais. O homem é um animal racional. Ele é capaz de raciocínio. Ele é capaz de chegar a novos conhecimentos. E somente pelo conhecimento é que ele pode realizar-se como ser humano. Recusar-se a pensar é o homem afastar-se cada vez mais da sua essência racional e animalizar-se cada vez mais. Não somos contra os sentidos. Não somos contra os instintos somos apenasmente a favor de uma posição que defende a elevação do homem ao seu ideal supremo, a aquilo que ele pode ser de melhor.

Se a fé vem por ouvir as palavras de Cristo como é que se explica que os apóstolos tivessem pouca fé ou pequena fé? Conforme já estudamos noutras ocasiões, o ouvir não se refere ao ouvir com os nossos ouvidos anatómicos mas ouvir com os ouvidos do entendimento. Portanto, a palavra ouvido deve ser tomada aqui no sentido simbólico. No episódio que relatamos sobre o fermento dos fariseus e dos saduceus Cristo repreendeu os seus discípulos por não entenderem. Este é o ponto-chave. Você pode ler a bíblia inteira mil vezes. Você pode escutar todas as pregações de todos os maiores pregadores da história como Paulo, Savonarola, Huss, Lutero, Zwinglio, Wesley, Branham, etc., e ainda assim não ter fé ou ter apenas um pouco de fé. Que fazer para aumentar a nossa fé ou que fazer para termos fé? Eis a questão central de que estamos tratando. Temos que ouvir a palavra de Cristo mas não ouvi-la com os ouvidos anatómicos mas com os ouvidos do entendimento. Portanto, a resposta não está no quanto lemos a bíblia ou ouvimos as pregações mas no quanto entendemos.

Temos que entender as palavras de Cristo para termos fé em Cristo ou seja para que a nossa alma possa aderir firmemente, plenamente, as palavras de Cristo sem temor de erro. Portanto, a nossa oração não deveria ser: “SENHOR aumente a minha Fé”, mas “SENHOR abra o meu entendimento “porque conforme vimos quando Cristo ressuscitou dos mortos, ele apareceu aos seus discípulos e abriu-lhes o entendimento para que pudessem entender as escrituras e quando isso aconteceu, a Bíblia diz que eles creram. Quanto mais entendermos mais fé teremos, mais próximos estaremos daquele ideal de fé crístico.

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