Não há nenhuma referência
na bíblia nem nas escrituras de outras religiões e tradições de que a maçã fosse
um fruto proibido, ou seja, sagrado com acesso vedado aos profanos. As árvores
sagradas são as seguintes: figueira, videira, oliveira e cedro, representando
cada uma delas a natureza humana (figueira), o dom profético (videira), a
natureza divina (oliveira), e o poder real (cedro).
Há duas correntes de opinião acerca do verdadeiro
sentido do fruto proibido. Uma das correntes é aquela que advoga que o fruto
proibido é a maçã e a outra diz que se trata de sexo. Essas duas opiniões têm
se digladiado por séculos. Digo opinião porque não há, aqui, nem dúvida, nem
certeza mas uma espécie de metéxis
platónica dos dois estados cognitivos do nous
humano.
Não quero, neste ensaio, discutir a opinião que diz
se tratar o fruto proibido de sexo mas aquela que diz tratar-se de maçã. Antes
de mais, importa esclarecer que não se pode falar de fruto proibido sem o
estabelecimento da distinção entre o sagrado e o profano porque o sagrado é
aquilo cujo acesso é proibido ou é restrito a certas pessoas que, em linguagem
tradicionalista diríamos, passaram pelo processo de iniciação, enquanto o
profano refere-se ao não iniciado, a aquilo que é meramente exotérico (trama),
o que está fora, o que se ob põe ao
esotérico (urdidura), aquilo que está dentro.
Quando lemos a bíblia de génesis (capítulo I,
versículo I) até Apocalipse (capítulo XXII, versículo XXI) vemos que há um
conjunto de árvores que são consideradas sagradas as quais passamos a mencioná-las:
1) figueira, 2) videira, 3) oliveira, 4) cedro. Podem existir outras árvores
mas estas são as consideradas sagradas e como podemos ver a maçaleira não faz
parte delas. Essa árvore nem mesmo é mencionada na Bíblia.
Sendo assim, de onde foram tirar essa crença de que
o fruto proibido é maçã? Se não foi da tradição, segue-se que não passa de uma
lenda urbana.
A FIGUEIRA na bíblia simboliza a nação de Israel. A
palavra Israel quer dizer um príncipe com Deus, que, na verdade, é aquele que
luta com Deus e prevalece. E luta-se com Deus através da oração. S.Paulo diz
que todo cristão, aquele que crê no nome de Jesus Cristo, a igreja, é o Israel
espiritual.
Ora, sabemos que igreja vem do grego ecclesia que traduzido é “chamados para
fora”. Há dois momentos em que Deus chamou os judeus para fora. Em primeiro
lugar Ele o chamou para fora do Egipto e em segundo lugar Ele os chamou para
fora da Babilónia. Egipto é conhecido na bíblia como a casa da servidão. A
babilónia vem de babel que quer dizer confusão, confusão porque as pessoas
falaram línguas distintas em Babel e não podiam se entender umas as outras.
Portanto, Egipto tem uma dimensão exotérica e babilónia uma dimensão esotérica,
de modo que podemos também interpretar Egipto como uma pseudo religião e a
babilónia como uma pseudo iniciação. No Apocalipse de S.Joao diz-se que a
Babilónia é mãe de todas as abominações que há na face da terra. R.Guenon chama
a teosofia de uma pseudo-tradição e o espiritismo de um pseudo-esoterismo.
Qualquer leitor da bíblia sabe que a igreja, os
chamados para fora, quer da confusão exotérica (Egipto), quer da confusão
esotérica (Babilónia), é o corpo de Cristo. Assim, podemos dizer que a figueira
é um símbolo do corpo de Cristo. Ora, o corpo sempre se refere aos aspectos
exteriores ou exotéricos do cristianismo.
A VIDEIRA é
uma outra árvore sagrada. Assim como o fruto da figueira é figo, o fruto da
videira é vinho. O vinho é também interpretado como a bebida dos deuses. No
novo testamento, o vinho é símbolo do sangue de Cristo que, por sua vez, é
símbolo do pacto eterno, do novo pacto de Deus com aqueles que Ele predestinou
para a vida eterna.
No evangelho segundo S.Joao, Cristo diz que Ele é a
videira verdadeira e que seus discípulos (os cristãos) são as varas ou os
ramos. Se Ele é a videira verdadeira é porque há-de haver uma outra que é
falsa. Foi o próprio Cristo que profetizou que muitos viriam em seu nome
dizendo: eu sou o Cristo. Quem são esses? As falsas videiras.
A OLIVEIRA produz olivas e as olivas produzem
azeite. O azeite é usado na bíblia para vários fins como seja iluminação e unção.
A unção simbolizava o baptismo com o Espírito Santo. Não há, contudo, nenhuma contradição
entre essas duas finalidades do azeite porque a unção, de alguma forma, ilumina
o ungido de modo que ele consegue atrair todo mundo para si, quer os bons, quer
os maus. E um dos exemplos é o próprio Cristo que ao ser ungido foi seguido não
apenas por homens bons mas também pelos maus como Judas Iscariotes que seguia
Jesus não por causa do reino de Deus mas por interesses financeiros e me
arrisco a dizer que Judas é o verdadeiro pai da teologia da prosperidade e depois
dele vem Simão, o mago, daí a venda e compra de favores espirituais chamar-se
simonia.
S.Paulo, apóstolo, refere-se em uma de suas epístolas
aos cristãos gentios como ramos de uma oliveira brava cortados e enxertados na
boa oliveira da qual os judeus, os herdeiros da aliança e dos profetas e de
Cristo haviam sido cortados. Assim, vê-se que o apóstolo usa a oliveira como
símbolo do reino de Deus.
A última árvore que vamos considerar, aqui, é o
CEDRO. Jó compara a cauda do Leviatã (dinossauro) com o cedro para mostrar a
dureza, a resistência da cauda daquele monstro antigo. Quando lemos a história
de Davi vemos que ele, no seu zelo para com o SENHOR Deus de Israel, não achou
bem que ele vivesse numa casa de cedro enquanto a arca de Deus continuava numa
tenda pelo que resolveu construir uma morada para o Deus de Jacó, porém, ele
sendo um homem de guerra não pôde construí-la mas Salomão, seu filho, que
reinou depois dele, realizou o sonho de Davi, seu pai. Curioso também é notar
que quando se começa a construir o tempo, Salomão falou com Hirão, rei de Tiro,
que lhe enviasse cedro porque não havia ninguém em toda a terra que tão bem
soubesse cortar cedro como os sidónios. Isso nos mostra que o cedro tem aquela conotação
de realeza.
Qualquer estudioso do apocalipse sabe que os quatro
animais que estão diante do trono e que repetem de dia e de noite sem cessar:
“santo, santo, santo” simbolizam os quatro evangelhos ou os quatro
evangelistas, a saber, Mateus, Marcos, Lucas e João. Ora, para os pitagóricos,
o número quatro simbolizava a lei eterna da reciprocidade. Não somente isso mas
também a soma dos quatro primeiros algarismos leva-nos ao número dez que é a
lei da unidade transcendental (1+2+3+4=10), portanto, temos, aqui, uma série de
leis que regem não apenas o mundo do contexto beta, que é o mundo das coisas
finitas, mas também o mundo do contexto alfa, que é o mundo das coisas
infinitas, tomada aqui a palavra coisa no sentido de Spinoza, ou seja, coisa
como o conjunto da totalidade e não coisa como objecto sensível. Nessa linha de
pensamento queremos mostrar que não apenas a revelação é regida pela lei do
tetra mas também as arvores sagradas sendo elas em número de quatro.
Sendo as árvores sagradas apenas as quatro que
mencionamos, a saber, a figueira (homem), a videira (Bezerro), a oliveira (águia)
e o cedro (Leão) as quais correspondem aos quatro animais ou aos quatro
evangelistas, a maçã como qualquer outra árvore como sejam a mangueira, a
goiabeira, o pinheiro, etc., não passam de árvores profanas e o uso da maçã no
lugar do fruto proibido é uma tentativa de profanar o verdadeiro significado
sagrado desse fruto.
Um dado interessante é que quando Adão e Eva comeram
do fruto proibido e seus olhos se abriram, a Bíblia diz que eles viram que
estavam nu e tomando da folha de figueira fizeram aventais para si. É por isso
que no meio dos estudos tradicionais diz-se que o fruto proibido era figo que
simboliza a natureza humana, aquilo que nasce com o próprio homem.
Quando Deus criou o homem, Ele o criou a sua imagem e
semelhança. Ou seja, Deus criou o homem para ser um deus (oliveira), porém, o
homem escolheu a árvore do bem e do mal (figueira) que é a natureza humana e é
por isso que ele se tornou mortal porque a natureza humana é mortal. Ela é
mortal porque é composta pelo conhecimento do bem e do mal.
Sendo a natureza humana conhecimento do bem e do mal
isso nos mostra o homem apenas como racional. Porém, o bem e o mal não
pertencem a nossa razão mas sim a nossa vontade. O que pertence a nossa razão é
o apetite da verdade e não do bem. Assim, o homem pode conhecer o bem e o mal até
as suas últimas consequências, fazendo todo o trajecto da divina comédia de
Dante mas ele não pode não pode salvar-se pelo conhecimento mas pelo acto livre
da vontade e não há vontade mais livre do que a vontade do ser supremo, o Deus
das religiões.
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