quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

O Medo

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O medo está ligado a carência das virtudes cardeais: 1) justiça, 2) prudência, 3) temperança e 4) fortaleza. Assim, no quadro das virtudes cardeais, o medo está ligado mais apropriadamente a privação de fortaleza.  

Num outro ensaio vamos ver como é que o medo está também ligado a carência das virtudes teologais (fé, esperança e amor), mais apropriadamente a privação do amor ao próximo como fonte-origem da fortaleza.


Queremos neste artigo meditar em torno do tema do medo. Mas antes de entrarmos propriamente nesse tema importa referir que o medo tem uma dimensão psicológica e uma dimensão ética. Isso pode parecer até mesmo uma tautologia porque a psicologia também pertence ao campo de estudo da ética. Não falamos apenas da psicologia prática mas também da psicologia teórica ou especulativa.

Portanto, o medo é um convite a psicologia e a psicologia é uma disciplina ética e a ética pertence ao campo dos estudos gerais dos axios grego, dos valores, de onde temos a axiologia.

A parte da ética que estuda o medo que é o tema de que estamos tratando é a parte das virtudes. A virtude é habitus. Portanto, a virtude resulta do hábito. Quando certas práticas se sedimentam na psique humana elas se tornam habituais, ela se tornam num hábito. Nem todos os hábitos são virtudes mas apenas os bons habitus. Se temos uma base de dados com uma série de bons ou maus hábitos podemos construir uma tendência desses hábitos, sejam eles bons ou maus de modo que a virtude é uma tendência, é um tender, um tender para o bem e o vício é um tender para o mal.

As acções sempre tendem para um fim, porque tender para o nada é para nada tender. O que é um absurdo afirmar que há acções que tendam para o nada. Todas as acções tendem para algo porque algo há e essa é uma tese de validade universal porque apodíctica, porque necessária.

Na suma teológica, Sto.Tomás de Aquino divide as virtudes em virtudes cardeais e virtudes teologais. Quatro são as virtudes cardeais, a saber: 1) justiça, 2) prudência, 3) temperança e 4) fortaleza. As virtudes teologais são três: 1) fé, 2) esperança e 3) amor.

As virtudes cardeais são aquelas que resultam do hábito. Quando falamos que virtude é hábito, estamos a falar dessas virtudes, das virtudes cardeais que também podem ser divididas em virtudes éticas e virtudes dianoéticas.

As virtudes éticas são o tender a aproximar-se do verdadeiro para afastar-se do falso no seu dia-a-dia, na sua relação com os outros homens. As virtudes dianoéticas são o fazer o mesmo exercício na vida intelectual, o que nos leva ao conceito de honestidade intelectual. Podemos resumir o que dissemos acerca das virtudes éticas e dianoéticas dizendo que as virtudes éticas estão no aspecto prático da virtude e as virtudes dianoéticas estão no aspecto especulativo da virtude.

O tema a que estamos dando o exame que estamos fazendo aqui está ligado mais directamente ou mais apropriadamente as virtudes cardeais de modo que não vamos tecer nenhum comentário sobre as virtudes teologais ao menos que esta se torne necessária.

No quadro das virtudes cardeais vemos que o medo está ligado a fortaleza que é a coragem. Não estamos dizendo que o medo é oposto da coragem. De modo nenhum. A coragem opõe-se a covardia. Assim também a ousadia se opõem a timidez, ao medo.

Ps: num outro ensaio vamos ver como é que o medo está também ligado a carência (1) das virtudes teologais, mais apropriadamente a carência do amor, do amor ao próximo como fonte-origem da fortaleza.

Nota:

(1)          Devemos evitar confundir privação com carência. Só há privação quando há virtualização de uma das possibilidades de um determinado ente. Por exemplo, um cego está privado de visão mas ele não carece de visão. A carência se dá quando um determinado ser não pode actualizar determinada possibilidade por essa pertencer ao conjunto das suas possibilidades. Por exemplo, uma pedra carece de visão mas não está privada de visão.

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