quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Sociedade de Lealdade

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Os EUA são conhecidos por seu pragmatismo o que faz com que a América seja a terra do “possível” porque os americanos raciocinam desde a perspectiva da realidade e não da necessidade. E um grande dado da realidade é que a base da convivência social não é a interdevoração hobbesiana mas a lealdade de J.Royce ou o amor ao próximo do Bispo de Hipona.



Os EUA são acusados de não terem produzido nenhuma escola de pensamento a não ser o pragmatismo de William James que é aquela que tende a produzir o homo faber, o homem de acção, o homem prático.

Na verdade, ninguém pode negar o papel dessa escola no modo de ser da sociedade norte-americana. Enquanto em muitos países, principalmente países do terceiro mundo, os problemas práticos não tem solução, nos EUA todos os problemas práticos têm solução. Como diz Olavo de Carvalho, “a América é a terra do possível”. Porquê? Porque os americanos sobrepujaram todas as contradições formais intrínsecas, o que torna tudo possível para eles.

O problema dos países terceiro-mundistas, para empregar a expressão de Alfred Sauvey, e outros países que até já foram países de primeira plana no domínio da técnica e da ciência é pensarem sempre a partir da perspectiva da sua própria necessidade e não a partir da perspectiva da realidade. Então, aí, é claro que as coisas serão impossíveis sempre. Enquanto isso, o americano raciocina desde a sua própria realidade e as coisas se tornam possíveis.

Temos que aprender de uma vez por todas que da necessidade que é a impossibilidade da não possibilidade, ou seja, a negação do não, não se pode postular a possibilidade. A possibilidade só se postula da realidade. Só há possibilidade da realidade e há necessidade da possibilidade e há possibilidade da realidade.

Me lembro agora do grande filósofo judeo-alemão Eric Voeglin que dizia sempre para seus alunos: “não estudem a filosofia de Eric Voeglin. Estudem a realidade”. O homem estava montado na razão. O que fizeram Sócrates, Platão e Aristóteles? Eles estudaram a realidade. Raciocinar sempre desde a perspectiva da realidade é tomar consciência das possibilidades que competem ao finito e é por isso que podemos definir a realidade como um campo das possibilidades finitas.

Então, ao invés de pensarmos: eu tenho necessidade de uma casa, eu tenho necessidade de um carro, eu tenho necessidade de um emprego, etc., devíamos, pelo contrário, olhar para a realidade e ver quais são as possibilidades que ela se nos oferece e tudo o resto ficará mais fácil.

Agora, não é verdade que nos EUA não há tradição filosófica. De modo nenhum. Há filósofos de envergadura universal nos EUA, só que pouco conhecidos até mesmo dentro das fronteiras nacionais dos EUA como é o caso de Josiah Royce que foi discípulo de Scheler. Ele escreveu um livro com o título “sociedade de confiança”. Isso é muito interessante porque as pessoas gostam muito de recorrer as lucubrações de Thomas Hobbes sobre a política dizendo que o homem no estado natural era espécie de homo homini lúpus, ou seja, o homem era o lobo de outro homem.

O que J.Royce vem mostrar é, pois, a improcedência dessa conclusão e demonstrar que a base da convivência social não é essa interdevoração hobbesiana mas a lealdade. Na verdade, na sociedade não há apenas o mal mas também o bem. Nela não há apenas destruição mas também muita coisa construtiva.

O que Royce diz vai na senda do agostinianismo. O bispo de Hipona já havia dito que a base da convivência social é o amor ao próximo que ele define como o desejo de eternidade do ser amado. Ora, se Agostinho já havia escrito isso no século IV como é que se explica que Hobbes mil anos depois tenha cometido um erro clamoroso como esse? Isso simplesmente aconteceu porque ele nunca leu Sto. Agostinho.

No mundo não há apenas lobos mas há uma miríade de espécies animais de diversos tipos. No mundo não há apenas lobos mas há também cordeiros. Certamente que não me refiro aos lobos e aos cordeiros literalmente mas tomados aqui como tipos humanos conforme amplamente tratado pela psicologia. Se há homens que espalham a violência, há também homens que espalham a paz. Na China não houve apenas Mao Tse Tung, lá também houve um Confúcio. Na Rússia não houve apenas um Stalin, la também houve um Liev Tolstoi. A Alemanha não produziu apenas um Hitler mas ela também produziu um Lutero, um Leibnitz, um Einstein, etc. de modo que acusar a sociedade de ser uma matilha de lobos é fingir-se de morto para roubar o coveiro.

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