Os EUA são
conhecidos por seu pragmatismo o que faz com que a América seja a terra do
“possível” porque os americanos raciocinam desde a perspectiva da realidade e
não da necessidade. E um grande dado da realidade é que a base da convivência
social não é a interdevoração hobbesiana mas a lealdade de J.Royce ou o amor ao
próximo do Bispo de Hipona.
Os EUA são acusados de não terem produzido nenhuma
escola de pensamento a não ser o pragmatismo de William James que é aquela que
tende a produzir o homo faber, o
homem de acção, o homem prático.
Na verdade, ninguém pode negar o papel dessa escola
no modo de ser da sociedade norte-americana. Enquanto em muitos países,
principalmente países do terceiro mundo, os problemas práticos não tem solução,
nos EUA todos os problemas práticos têm solução. Como diz Olavo de Carvalho, “a
América é a terra do possível”. Porquê? Porque os americanos sobrepujaram todas
as contradições formais intrínsecas, o que torna tudo possível para eles.
O problema dos países terceiro-mundistas, para
empregar a expressão de Alfred Sauvey, e outros países que até já foram países
de primeira plana no domínio da técnica e da ciência é pensarem sempre a partir
da perspectiva da sua própria necessidade e não a partir da perspectiva da
realidade. Então, aí, é claro que as coisas serão impossíveis sempre. Enquanto
isso, o americano raciocina desde a sua própria realidade e as coisas se tornam
possíveis.
Temos que aprender de uma vez por todas que da
necessidade que é a impossibilidade da não possibilidade, ou seja, a negação do
não, não se pode postular a possibilidade. A possibilidade só se postula da
realidade. Só há possibilidade da realidade e há necessidade da possibilidade e
há possibilidade da realidade.
Me lembro agora do grande filósofo judeo-alemão Eric
Voeglin que dizia sempre para seus alunos: “não estudem a filosofia de Eric
Voeglin. Estudem a realidade”. O homem estava montado na razão. O que fizeram Sócrates,
Platão e Aristóteles? Eles estudaram a realidade. Raciocinar sempre desde a
perspectiva da realidade é tomar consciência das possibilidades que competem ao
finito e é por isso que podemos definir a realidade como um campo das
possibilidades finitas.
Então, ao invés de pensarmos: eu tenho necessidade
de uma casa, eu tenho necessidade de um carro, eu tenho necessidade de um
emprego, etc., devíamos, pelo contrário, olhar para a realidade e ver quais são
as possibilidades que ela se nos oferece e tudo o resto ficará mais fácil.
Agora, não é verdade que nos EUA não há tradição
filosófica. De modo nenhum. Há filósofos de envergadura universal nos EUA, só
que pouco conhecidos até mesmo dentro das fronteiras nacionais dos EUA como é o
caso de Josiah Royce que foi discípulo de Scheler. Ele escreveu um livro com o título
“sociedade de confiança”. Isso é muito interessante porque as pessoas gostam
muito de recorrer as lucubrações de Thomas Hobbes sobre a política dizendo que
o homem no estado natural era espécie de homo
homini lúpus, ou seja, o homem era o lobo de outro homem.
O que J.Royce vem mostrar é, pois, a improcedência
dessa conclusão e demonstrar que a base da convivência social não é essa interdevoração
hobbesiana mas a lealdade. Na verdade, na sociedade não há apenas o mal mas
também o bem. Nela não há apenas destruição mas também muita coisa construtiva.
O que Royce diz vai na senda do agostinianismo. O
bispo de Hipona já havia dito que a base da convivência social é o amor ao
próximo que ele define como o desejo de eternidade do ser amado. Ora, se
Agostinho já havia escrito isso no século IV como é que se explica que Hobbes
mil anos depois tenha cometido um erro clamoroso como esse? Isso simplesmente
aconteceu porque ele nunca leu Sto. Agostinho.
No mundo não há apenas lobos mas há uma miríade de
espécies animais de diversos tipos. No mundo não há apenas lobos mas há também
cordeiros. Certamente que não me refiro aos lobos e aos cordeiros literalmente
mas tomados aqui como tipos humanos conforme amplamente tratado pela
psicologia. Se há homens que espalham a violência, há também homens que
espalham a paz. Na China não houve apenas Mao Tse Tung, lá também houve um Confúcio.
Na Rússia não houve apenas um Stalin, la também houve um Liev Tolstoi. A
Alemanha não produziu apenas um Hitler mas ela também produziu um Lutero, um
Leibnitz, um Einstein, etc. de modo que acusar a sociedade de ser uma matilha
de lobos é fingir-se de morto para roubar o coveiro.
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